No final do ano passado um relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) classificou a carne vermelha processada como carcinógeno do tipo I.
Essa é a mesma classificação dada ao cigarro e isso gerou grande polêmica na população mundial.
De acordo com o cirurgião oncológico, Dr. Marciano Anghinoni, embora o relatório tenha gerado preocupação inicial, o que podemos afirmar é que o consumo de carne vermelha não está diretamente relacionado com a causa do câncer, mas sim que é um dos fatores de risco.
Classificar a carne vermelha processada com o mesmo grau de fator de risco que o cigarro não significa dizer que o seu potencial de causar câncer é o mesmo do cigarro, mas apenas que existe a mesma quantidade de evidências científicas que correlacionam o cigarro com o câncer e a carne vermelha com o câncer.
Mas o potencial do cigarro em causar câncer é muito maior que o da carne vermelha. Só pra se ter uma idéia em números, estima-se que no mundo, anualmente, 30.000 mortes por câncer são relacionados ao consumo de carne vermelha, enquanto que as mortes relacionadas ao tabaco são estimadas em 1.000.000 ao ano.
Acredita-se que compostos presentes na carne, chamados de nitrosaminas possam estar relacionados aos mecanismos biológicos que envolvem o desenvolvimento do câncer, mas ainda não existem pesquisas conclusivas em relação ao motivo pelo qual a carne vermelha aumenta o risco de câncer.
Os estudos (pesquisas científicas) realizados até hoje não conseguiram definir uma quantidade segura ou uma quantidade que esteja relacionada à maior risco, por isso usamos recomendações de órgãos internacionais como a Agência internacional de pesquisa em câncer – IACR. De acordo com a agência a recomendação é de que quantidade máxima de carne vermelha a ser ingerida por dia seja de 70 gramas, ou um total de 500 gramas por semana.
Além disso, o relatório da OMS relacionou o maior risco de desenvolver câncer colorretal ao consumo de carnes processadas, como salsichas, linguiça, bacon, presunto, mortadela.
As carnes não processadas e frescas (sem conservantes, sem cura, sem processos de defumação) são relacionadas à um risco menor do que as carnes processadas.
De acordo com Dr. Anghinoni, devemos ter certo cuidado com o impacto sensacionalista de notícias como esta.
Embora a OMS tenha classificado a carne vermelha processada como carcinógeno tipo I, isso não significa que devemos parar completamente de ingerir carne vermelha.
Esse aumento do risco não é elevado e o que as entidades internacionais sugerem é que a carne vermelha animal seja apenas uma das fontes de proteína animal, mas não a principal.
Recomenda-se que se diminua o consumo principalmente de carnes processadas.
Além disso, o cigarro, o álcool e outras substâncias e alimentos também estão relacionados à um maior risco de desenvolvimento de vários tipos de câncer, assim como a obesidade e o sedentarismo.
Por isso, segundo o médico, uma atitude saudável no sentido de prevenção de câncer, requer, para a maioria das pessoas, uma mudança comportamental muito maior que apenas a diminuição da ingestão de carne vermelha.