Como se preparar para a cirurgia e diminuir os riscos de contaminação.
A pandemia Covid-19 impactou diretamente a assistência ao câncer. Enquanto nós, especialistas, ainda vivenciamos o cenário de diminuição do diagnóstico de câncer, já estamos, ao mesmo tempo, prevendo um aumento de casos graves para os próximos meses, com impacto real na mortalidade por essa doença. Nesse sentido, os especialistas em oncologia estão buscando de todas as formas manter a assistência oncológica, incluindo as cirurgias oncológicas, mas dentro de uma assistência segura. Nesse artigo falaremos sobre a questão dos pacientes que precisam fazer uma cirurgia oncológica em meio a pandemia.
Grupos susceptíveis às formas graves da Covid 19
Os pacientes oncológicos de um modo em geral, são mais susceptíveis às formas graves da Covid, principalmente os seguintes grupos:
– Pacientes em tratamento com quimioterapia ou radioterapia ou que receberam tratamento no último mês;
– Pessoas que fizeram transplante de medula óssea ou de células-tronco nos últimos seis meses;
– Aqueles em uso de medicamentos com efeito imunossupressor;
– Pessoas com alguns tipos de câncer no sangue ou no sistema linfático que, apesar de não necessitarem de tratamento, acabam por ter prejuízos ao sistema imunológico, por exemplo leucemia crônica, alguns tipos de linfoma ou mieloma múltiplo.
Sabemos também que as pessoas acima de 60 anos, portadores de doenças crônicas como diabetes, doenças cardiovasculares e respiratórias têm maior risco de apresentarem complicações graves em caso de infecção por Covid-19.
Recomendações
Atualmente recomenda-se que nenhum tratamento de câncer seja abandonado, mas que o paciente discuta com seu oncologista se alguma adaptação no tratamento é necessária. Falando especificamente sobre pacientes que precisam de cirurgia, sabemos que há um certo temor de que o paciente seja contaminado pelo Coronavírus no período pós-operatório.
A situação atual, por vezes leva ao adiamento ou cancelamento de cirurgias eletivas, inclusive oncológicas, podendo também ocorrer a sua substituição por outro tipo de tratamento. Muitas vezes, isso é realizado, após se definir o risco versus benefício da troca da cirurgia por outro tratamento. Para essa tomada de decisão deve-se levar em conta o grau de agressividade do tumor, a idade, a condição clínica do paciente, o tipo de cirurgia que será realizada e a situação da pandemia naquele momento e naquele local.
Risco de se contaminar pelo Coronavírus
É claro que não se pode negligenciar o fato da complexidade associada aos procedimentos cirúrgicos oncológicos, desde o seu pré-operatório até o seu pós-operatório, muitas das vezes fazendo-se necessário a admissão do paciente num leito de UTI, local onde são tratados os pacientes mais graves de Covid. Por isso, infelizmente, existe um certo risco de contaminação hospitalar pelo Coronavírus do paciente submetido à cirurgia.
Levando este risco em conta, a decisão entre operar ou postergar a cirurgia deve ser tomada conjuntamente pelo paciente e equipe médica, após se pesar os riscos e benefícios de postergar ou realizar naquele momento o procedimento. Porém, atualmente, nós cirurgiões oncológicos estamos avaliando constantemente o cenário da pandemia e os cenários dos hospitais e tentando proteger o paciente do risco da Covid ao mesmo tempo em que nos preocupamos em não deixar o câncer progredir.
A recomendação da SBCO
A Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) recomenda manter as cirurgias oncológicas caracterizadas como urgências ou eletivas essências, ou seja, de tumores de comportamento extremamente agressivo, cujo atraso no procedimento por poucos meses resultaria em dano maior e irreversível ao prognóstico do paciente ou óbito pelo câncer. Já as cirurgias de emergência seguem sendo realizadas normalmente.
Quanto a avaliação de novos casos, recomenda-se o uso da telemedicina para triagem dos pacientes que não necessitem de avaliação presencial, dando especial atenção a tumores de maior agressividade, tais como de pâncreas, fígado e vias biliares, estômago, cólon e reto, pulmão, ovário avançado, endométrio avançado e melanoma.
Recomendações no dia do tratamento
No dia do tratamento, algumas recomendações são importantes:
– Ter somente um acompanhante, preferencialmente com menos de 60 e sem sintomas de resfriado ou de gripe;
– Manter distância de outras pessoas (1 a 2 metros), inclusive da equipe de saúde e de outros pacientes;
– Evitar circular pelo hospital desnecessariamente;
– Não permanecer no local de tratamento por mais tempo do que o necessário;
– Manter os cuidados de prevenção com a higiene das mãos;
– Fazer o correto uso da máscara de proteção.
Hospitais com áreas livres de Covid 19
Atualmente muitos hospitais instituíram protocolos e reorganizaram sua estrutura, criando áreas livres de Covid, inclusive UTI’s, que se destinam ao tratamento das outras doenças com rotinas específicas, ambientes separados e equipes profissionais que não frequentam as áreas de pacientes Covid. Apesar de tecnicamente, em razão do perfil epidemiológico do vírus, ser impossível criar um ambiente totalmente livre de Covid, nesses locais, a chance de contaminação é menor. Alguns hospitais adotaram protocolos com triagem clínica e com testes de Covid no período pré-operatório. É importante que médico e paciente se informem se o hospital adota essas medidas de cuidado e áreas “livres” de Covid.
Outro alerta, é de que o paciente não seja submetido à cirurgia se estiver no período pré-operatório estiver com sintomas de Covid, como febre, dor de cabeça, falta de ar, tosse e perda do olfato. Se esses sintomas estiverem presentes o paciente deve comunicar o médico que avaliará a necessidade de um teste de confirmação.
Concluindo
Portanto a orientação é não deixar de fazer a cirurgia, se ela for importante naquele momento, para o prognóstico do câncer. Muitas vezes, esperar para tratar um câncer agressivo pode privar o paciente da cura e o paciente pode evoluir a óbito pelo próprio câncer não tratado. O câncer não faz quarentena. Por isso, é importante buscar tratamento com profissionais especialistas na doença e discutir o melhor momento de fazer a cirurgia, levando em conta o cenário local e as medidas de segurança adotadas pelo paciente, pela equipe médica e multidisciplinar e pelo hospital onde será feita a cirurgia.
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