
O pâncreas trabalha em silêncio, escondido no fundo do abdome. Talvez por isso o câncer de pâncreas tantas vezes chegue tarde — com sintomas que, no começo, parecem apenas “uma fase ruim”: indigestão persistente, dor nas costas de novo padrão, perda de apetite, emagrecimento sem explicação. Quando a avaliação demora, perdemos janelas importantes. Por isso, a regra que seguimos no consultório é simples: sintomas persistentes + fatores de risco pedem investigação agora. Com diagnóstico precoce, aumentam as chances de ressecção cirúrgica, que ainda é a via com maior potencial de controle da doença.
No meu dia a dia em Curitiba, o caminho começa por uma boa conversa e exames de imagem de qualidade. A decisão não é de um único médico; nasce de uma reunião multidisciplinar — cirurgia HPB, oncologia clínica, radiologia, endoscopia,radiologia intervencionista. É assim que escolhemos a ordem certa: cirurgia primeiro? quimioterapia neoadjuvante antes? tratamento sistêmico primário? Direcionar bem na largada muda o final.
Sinais que não podem ser normalizados
- Icterícia (pele/olhos amarelados), urina escura, fezes claras
- Dor abdominal que irradia para as costas, náusea, indigestão que insiste
- Perda de peso, falta de apetite, cansaço fora do padrão
- Diabetes recente em adulto sem excesso de peso
Persistência é a palavra-chave. Se o corpo mudou de padrão e não voltou ao normal, investigue.
Como conduzimos a investigação (na prática)
- Tomografia e/ou ressonância para estadiar, avaliar relação do tumor com vasos e definir ressecabilidade.
- Ultrassom endoscópico para detalhar e, quando indicado, biópsia com precisão.
- Reunião de equipe para decidir a sequência: operar, fazer neoadjuvância ou tratamento sistêmico primeiro — sem atalhos.
Quando a cirurgia entra — e o papel da via robótica
Em tumores ressecáveis ou borderline (limítrofes), a pancreatectomia é a principal chance de controle. A escolha da via (aberta, laparoscópica, robótica) é técnica, não ideológica. A cirurgia robótica pode agregar visão 3D ampliada, precisão em planos profundos atrás do estômago e suturas delicadas em estruturas nobres, com potencial de menor perda sanguínea, dor mais controlada e recuperação mais previsível — quando o caso é adequado e em centros experientes. Se a anatomia, o volume tumoral ou a segurança oncológica pedirem a via aberta, é por ela que vamos. O objetivo é o melhor resultado oncológico e funcional, não “fazer robô”.
Robótica x via aberta (o que costuma mudar)
- Campo e precisão: 3D ampliado e instrumentos articulados ajudam na dissecção e nas anastomoses.
- Trauma de parede: incisões menores favorecem dor e mobilização precoce.
- Consistência do gesto: ergonomia reduz fadiga em cirurgias longas.
- Conversão: se necessária, é decisão de segurança, não fracasso.
O que diferencia a nossa forma de cuidar
Seleção criteriosa de casos
- Revisamos imagens (TC/RM) com foco em relação vascular e plano oncológico.
- Se a via robótica não agrega no seu contexto, não indicamos.
Discussão multidisciplinar de verdade
- Reuniões semanais com cirurgiões especialistas, oncologia clínica, radiologia e endoscopia.
- Plano claro: objetivo oncológico, sequência terapêutica e critérios de resposta.
Equipe dedicada ao aparelho digestivo
- Experiência diária em pâncreas, fígado e vias biliares.
- Checklists, padronização de passos críticos e revisão de casos (o que chamamos de consistência de gesto).
Hospitais de referência em Curitiba
- Plataformas robóticas atualizadas, UTI preparada, hemodinâmica e endoscopia avançada.
- Estrutura que sustenta segurança do pré ao pós-operatório.
Protocolos hospitalares e ERAS
- Analgesia multimodal, prevenção de náusea, mobilização precoce e nutrição programada.
- Metas do dia 0 até a alta; redução de complicações e retorno mais previsível.
Um exemplo real de jornada (anônimo)
Homem de 64 anos, ex-tabagista, com icterícia há poucos dias. Tomografia inicial sugeriu tumor de cabeça de pâncreas ressecável. Realizamos ultrassom endoscópico com biópsia e apresentamos o caso na discussão multidisciplinar. A equipe alinhou pancreatectomia como primeiro passo. Optamos por abordagem minimamente invasiva/robótica pela anatomia favorável e necessidade de suturas precisas. Resultado: margens adequadas, dor controlada, alta precoce e início oportuno do tratamento complementar. Poderia ser aberta? Sim. Por que robótica? Porque, neste contexto, aumentou a precisão sem comprometer o plano oncológico.
Perguntas que costumo responder
- “Robótica elimina a necessidade de quimioterapia?” Não. A via de acesso não substitui o tratamento sistêmico quando indicado.
- “Se o tumor for borderline, dá para operar direto?” Em muitos casos, neoadjuvância melhora condições de ressecção. Decidimos em equipe.
- “E se precisar converter para aberta?” Convertendo, seguimos com segurança e propósito oncológico intacto.
Do pré ao pós: o que esperar
- Pré-operatório: otimização clínica (glicemia, nutrição), cessação do tabagismo, fisioterapia respiratória.
- Dia da cirurgia: antibiótico profilático, aquecimento ativo, checklist e metas do procedimento.
- Pós-imediato: dor sob controle, mobilização precoce, retomada gradual da dieta; vigilância de fístula e sangramento.
- Seguimento: anatomopatológico, discussão de próximos passos e calendário de acompanhamento.
Mensagem central: no câncer de pâncreas, tempo é tratamento. Agir cedo, com imagens de qualidade e equipe experiente, muda a história.
Quando procurar avaliação agora
- Icterícia recente, emagrecimento sem explicação, dor que não se parece com as dores antigas.
- Diabetes de início recente em adulto sem ganho de peso.
- Histórico familiar importante ou combinação de fatores de risco (tabagismo, pancreatite crônica, obesidade).
Este conteúdo é informativo e não substitui consulta. As decisões devem ser individualizadas.
Se você está investigando um nódulo pancreático ou recebeu um diagnóstico recente, minha equipe em Curitiba pode revisar seus exames, discutir opções (incluindo a via robótica quando indicada) e organizar o melhor plano para o seu caso.