
No consultório, há uma cena que se repete. Alguém com menos de 45 anos entra, pede desculpas pelo assunto “constrangedor” e diz: “Doutor, deve ser hemorroida”. Às vezes é mesmo. Mas, quando o sangramento nas fezes persiste por semanas, quando o intestino muda de ritmo de forma contínua e quando aparece anemia sem explicação, eu prefiro não apostar na sorte. Nesses cenários, investigar cedo costuma ser a decisão mais segura.
Na minha consulta, começo pela conversa — história familiar, rotina intestinal, hábitos, medicações. Exames complementares podem entrar na sequência, mas quero deixar claro desde o início: a colonoscopia continua sendo o principal método de rastreamento do câncer colorretal. Existem métodos alternativos, como o teste imunológico fecal (capaz de detectar pequenas quantidades de sangue nas fezes), que podem ser úteis em determinados contextos. Porém, quando falamos de prevenção efetiva, a colonoscopia tem uma vantagem decisiva: além de visualizar o intestino grosso por dentro, permite retirar pólipos no mesmo ato, interrompendo a evolução de lesões precursoras.
Um caso que ilustra
Recentemente, avaliei uma professora de 42 anos com anemia persistente e alternância entre prisão de ventre e fezes amolecidas. Pelo conjunto de sintomas e histórico, optamos por colonoscopia direta. O exame encontrou um pólipo intestinal que foi removido durante o exame. Recuperação tranquila e um plano claro de acompanhamento. É assim que a prevenção deixa de ser conceito e vira resultado. Mas muitas vezes, a colonoscopia pode revelar um câncer instalado, e aí entra o cirurgião especialista para definir a melhor conduta.
Sinais que não podem ser ignorados
- Sangue nas fezes, mesmo esporádico
- Mudança persistente do hábito intestinal (3–4 semanas)
- Anemia sem causa aparente, cansaço fora do padrão
- Perda de peso involuntária
- Dor abdominal contínua ou sensação de evacuação incompleta
Hemorroida existe, claro — mas não explica tudo. Persistência é o que muda a história.
A colonoscopia assusta pela sua má fama, não pelo que realmente ela é. Quando bem indicada, é um exame seguro, realizado com sedação, que não apenas “mostra” como age. Se o achado for um pólipo, ele pode ser retirado. Se houver inflamações, sangramentos ou lesões, conseguimos documentar, tratar e planejar com precisão. Para muitas pessoas de baixo risco, a colonoscopia programada em intervalos definidos é o que, de fato, reduz incidência e mortalidade por câncer colorretal.
Rastreamento na prática (o que costumo fazer)
- Principal método (padrão-ouro): colonoscopia em intervalos definidos pela idade, história familiar, pólipos prévios e achados anteriores.
- Métodos alternativos: teste imunológico fecal pode ser útil quando a colonoscopia não é possível naquele momento; se vier alterado, a próxima etapa costuma ser colonoscopia.
- Após retirada de pólipo: o intervalo da próxima colonoscopia depende de tipo, número e tamanho do pólipo (seguimos recomendações de sociedades científicas).
Quando diagnosticamos cedo, muita coisa muda. Lesões iniciais podem ser tratadas por endoscopia; tumores localizados, quando precisam de cirurgia, muitas vezes permitem abordagem minimamente invasiva ou robótica, com menos dor, menor perda sanguínea e alta mais rápida — desde que indicadas no contexto certo. Em Curitiba, trabalho com protocolos de recuperação acelerada (ERAS), que organizam analgesia, nutrição e mobilização para que a volta às atividades seja mais previsível.
“É hora de marcar?” — três perguntas simples
- O sangramento parou completamente? Se não, por quanto tempo persiste?
- Seu intestino mudou de padrão (e permaneceu diferente por semanas)?
- Há história familiar de pólipos avançados ou câncer de intestino?
Se duas respostas incomodam, vale conversar. E conversar não é, obrigatoriamente, sair pedindo uma lista de exames: é organizar a investigação e decidir quando a colonoscopia entra — muitas vezes, já como primeira escolha.
Também olho sempre para o entorno. O intestino tem suas rotinas; ele não viroutro de um dia para o outro. Dormir melhor, comer fibras com regularidade (verduras, frutas, cereais integrais), beber água ao longo do dia, praticar atividade física e parar de fumar não substituem exame, mas dão menos terreno para que problemas se instalem. É o simples que funciona — e o simples exige constância.
Para fechar, sem alarde e sem atraso
Falar de câncer colorretal antes dos 50 não é causar pânico; é tratar o tema com maturidade. A colonoscopia segue sendo a espinha dorsal do rastreamento, porque previne e diagnostica. Métodos alternativos podem ajudar em situações específicas, mas, quando pensamos em impacto real, a via endoscópica é a que muda a curva.
Nota: este texto é educativo e não substitui uma consulta médica. Cada caso tem nuances e deve ser avaliado individualmente.
Se você tem sintomas persistentes ou dúvidas sobre quando realizar colonoscopia, ou se conhece alguém que busca um tratamento especializado para o câncer do intestino grosso, posso realizar uma avaliação e ajudar com uma abordagem personalizada.