Quimioterapia
A quimioterapia é um tratamento que utiliza medicamentos chamados quimioterápicos. Quando aplicada ao câncer, a quimioterapia é chamada de quimioterapia antineoplásica ou quimioterapia antiblástica.
O primeiro quimioterápico antineoplásico foi desenvolvido a partir do gás mostarda, usado nas duas Guerras Mundiais como arma química. Após a exposição de soldados a este agente, observou-se que eles desenvolveram hipoplasia medular e linfóide, o que levou ao seu uso no tratamento dos linfomas malignos.
Os avanços verificados nas últimas décadas, na área da quimioterapia antineoplásica, têm facilitado consideravelmente a aplicação de vários tipos de tratamento de câncer e permitido maior número de curas.
Mecanismos de ação e classificação das drogas antineoplásicas
Os agentes utilizados no tratamento do câncer afetam tanto as células normais como as neoplásicas, porém eles acarretam maior dano às células malignas do que às dos tecidos normais, devido às diferenças quantitativas entre os processos metabólicos dessas duas populações celulares.
A maioria das drogas utilizadas na quimioterapia antineoplásica interfere de algum modo no mecanismo celular, levando à morte das células cancerígenas, ou impedindo que elas se reproduzam até serem destruídas pelo sistema imunológico.
Tipos e finalidades da quimioterapia
A quimioterapia pode ser feita com a aplicação de um ou mais quimioterápicos. O uso de drogas isoladas (monoquimioterapia) mostrou-se ineficaz em induzir respostas completas ou parciais significativas, na maioria dos tumores, sendo atualmente de uso muito restrito. A poliquimioterapia é de eficácia comprovada e tem como objetivos atingir populações celulares em diferentes fases do ciclo celular, utilizar a ação sinérgica das drogas, diminuir o desenvolvimento de resistência às drogas e promover maior resposta por dose administrada.
A quimioterapia pode ser utilizada em combinação com a cirurgia e a radioterapia. De acordo com as suas finalidades, a quimioterapia é classificada em:
- Curativa – quando é usada com o objetivo de se conseguir o controle completo do tumor, como nos casos de doença de Hodgkin, leucemias agudas, carcinomas de testículo, coriocarcinoma gestacional e outros tumores.
- Adjuvante – quando se segue à cirurgia curativa, tendo o objetivo de esterilizar células residuais locais ou circulantes, diminuindo a incidência de metástases à distância. Exemplo: quimioterapia adjuvante aplicada em caso de câncer de mama operado em estádio II.
- Neoadjuvante ou prévia – quando indicada para se obter a redução parcial do tumor, visando a permitir uma complementação terapêutica com a cirurgia e/ou radioterapia. Exemplo: quimioterapia pré-operatória aplicada em caso de sarcomas de partes moles e ósseos.
- Paliativa – não tem finalidade curativa. Usada com a finalidade de melhorar a qualidade da sobrevida do paciente. É o caso da quimioterapia indicada para carcinoma indiferenciado de células pequenas do pulmão.
Efeitos tóxicos dos quimioterápicos
Os quimioterápicos não atuam exclusivamente sobre as células tumorais. As estruturas normais que se renovam constantemente, como a medula óssea, os pêlos e a mucosa do tubo digestivo, são também atingidas pela ação dos quimioterápicos.
No entanto, como as células normais apresentam um tempo de recuperação previsível, ao contrário das células tumorais, é possível que a quimioterapia seja aplicada repetidamente, desde que observado o intervalo de tempo necessário para a recuperação da medula óssea e da mucosa do tubo digestivo.
Por este motivo, a quimioterapia é aplicada em ciclos periódicos. Os efeitos terapêuticos e tóxicos dos quimioterápicos dependem do tempo de exposição e da concentração da medicação no sangue. A toxicidade é variável para os diversos tecidos e depende do quimioterápico utilizado. As doses para pessoas idosas e debilitadas devem ser menores, inicialmente, até que se determine o grau de toxicidade e de reversibilidade dos sintomas indesejáveis.
Os efeitos tóxicos mais comuns são náuseas, vômitos, mal-estar, adinamia, artralgias, anemias e queda da imunidade (mielossupressão). A maioria desses efeitos é tratada com medicações e desaperece após o fim do tratamento.
Novos medicamentos
No últimos anos, diversos medicamentos novos foram introduzidos no arsenal de tratamento sistêmico do câncer, fruto de amplas pesquisas científicas. Um nova geração de medicamentos, as chamadas terapias-alvo ou terapia molecular está sendo utilizada em combinação com a quimioterapia clássica.
Essa nova geração de medicamentos age diretamente nas células tumorais, poupando as células normais dos efeitos tóxicos e abriu caminho para uma nova era no tratamento do câncer: o tratamento alvo-específico.
Apesar de conceitualmente essas drogas serem consideradas uma revolução terapêutica, elas oferecem por enquanto, nos casos de câncer avançado, apenas aumento nas taxas de sobrevida, e não ainda a cura propriamente dita.
Radioterapia
A radioterapia é um método de tratamento local e/ou regional, que usa a radiação e pode ser indicada como forma exclusiva ou associada aos outros métodos terapêuticos. Em combinação com a cirurgia, poderá ser pré-, per- ou pós-operatória. Também pode ser indicada antes, durante ou logo após a quimioterapia.
A radiação utilizada nos tratamentos é uma radiação controlada gerada por equipamentos modernos. Essa radiação é denominada radiação ionizante e pode ser de vários tipos, a depender do objetivo do tratamento.
As radiações ionizantes são eletromagnéticas ou corpusculares e carregam energia.Ao interagirem com os tecidos, dão origem a substâncias que destroem o DNA das células tumorais, levando à morte dessas células.
Para que o efeito biológico atinja maior número de células neoplásicas e a tolerância dos tecidos normais seja respeitada, a dose total de radiação a ser administrada é habitualmente fracionada em doses diárias iguais, quando se usa a terapia externa, Por esse motivo, o tratamento dura vários dias.
Radiossensibilidade e radiocurabilidade
A velocidade da regressão tumoral representa o grau de sensibilidade que o tumor apresenta às radiações. Depende fundamentalmente da sua origem celular, do seu grau de diferenciação, da oxigenação e da forma clínica de apresentação. A maioria dos tumores radiossensíveis são radiocuráveis.
Entretanto, alguns se disseminam independentemente do controle local; outros apresentam sensibilidade tão próxima à dos tecidos normais, que esta impede a aplicação da dose de erradicação. A curabilidade local só é atingida quando a dose de radiação aplicada é letal para todas as células tumorais, mas não ultrapassa a tolerância dos tecidos normais.
Indicações da radioterapia
A radioterapia pode ser radical (ou curativa), quando se busca a cura total do tumor; remissiva, quando o objetivo é apenas a redução tumoral; profilática, quando se trata a doença em fase subclínica, isto é, não há volume tumoral presente, mas possíveis células neoplásicas dispersas; paliativa, quando se busca a remissão de sintomas tais como dor intensa, sangramento e compressão de órgãos; e ablativa, quando se administra a radiação para suprimir a função de um órgão, como, por exemplo, o ovário, para se obter a castração actínica.
Efeitos colaterais
De acordo com a localização do local tratado, poderão ocorrer efeitos indesejáveis, em decorrência do tratamento. Dermatites ( inflamação na pele), inchaço nos membros, alteração na sensibilidade da pele, são alguns dos efeitos adversos mais comuns. Se o tratamento for na cabeça ou no pesco;o, alterações no paladar, boca seca e dificuldade de deglutição também poderão ocorrer.
Hormonioterapia
Alguns tumores como os de mama, próstata e endométrio expressam receptores hormonais, ou seja, eles crescem por conta da presença hormonal.
A hormonioterapia é um tratamento que tem como objetivo impedir a ação destes hormônios, bloqueando ou suprimindo os efeitos do hormônio sobre o órgão alvo (órgão sobre o qual atua), por exemplo, o estrógeno, que é o hormônio responsável pela proliferação celular no caso do tumor da mama.
No caso do câncer de mama este tratamento é utilizado sempre que o tumor expressar positividade para receptores hormonais de estrogênio, independente da idade, do estadiamento da doença e da mulher ser pré ou pós-menopáusica.
A terapia hormonal, assim como a quimioterapia, tem ação sistêmica, o que significa que age em todas as partes do organismo. Como cada organismo reage de uma forma diferente às drogas que combatem a doença, antes de se iniciar a hormonioterapia, é necessário que a paciente faça um teste.
No caso de câncer de mama o teste é para o receptor de estrogênio e progesterona. O objetivo é comprovar que a paciente é sensível ao medicamento e avaliar a utilidade do tratamento em cada caso.
Imunoterapia
A imunoterapia é o tratamento do câncer que promove a estimulação do sistema imunológico, por meio do uso de substâncias modificadoras da resposta biológica. As reações imunológicas podem ser resultado da interação antígeno-anticorpo ou dos mecanismos envolvidos na imunidade mediada por células.
Há muito tempo se reconhece a relação entre competência imunológica e evolução favorável da doença maligna. Especificamente, a redução da atividade das células supressoras tem sido demonstrada em pacientes com câncer de ovário, neuroblastoma e carcinoma hepatocelular.
Esta observação está mais relacionada à presença de doença avançada do que ao tipo histológico do tumor e também oferece as bases para a imunoterapia de pacientes com câncer, sob a hipótese de que a restauração da função imunológica pode levar a um melhor prognóstico do caso.
Tipos de imunoterapia
A imunoterapia é classificada em ativa e passiva, de acordo com as substâncias utilizadas e os seus mecanismos de ação.
Na imunoterapia ativa, substâncias estimulantes e restauradoras da função imunológica (imunoterapia inespecífica) e as vacinas de células tumorais (imunoterapia específica) são administradas com a finalidade de intensificar a resistência ao crescimento tumoral. A imunoterapia específica pode ser autóloga ou heteróloga.
Na imunoterapia passiva ou adotiva, anticorpos antitumorais ou células mononucleares exógenas são administradas, objetivando proporcionar capacidade imunológica de combate a doença. Alguns tipos de imunoterapia estão relatados no quadro abaixo. Deve-se salientar que vários tipos de imunoterapia ainda são de uso experimental, sem eficácia clínica totalmente comprovada.
Tratamento Cirúrgico
A cirurgia oncológica é a modalidade de tratamento mais antiga contra o câncer. A era moderna da cirurgia para o tratamento do câncer teve seu início marcado por uma operação realizada por Ephraim McDowell, em 1890, com a remoção bem sucedida de um tumor de ovário, tendo a paciente sobrevivido por mais de 30 anos.
O câncer, em sua fase inicial, pode ser controlado e/ou curado, através do tratamento cirúrgico, quando este é o tratamento indicado para o caso. O planejamento cirúrgico deve incluir todos os cuidados referentes aos princípios gerais da cirurgia e ao preparo do paciente e seus familiares sobre as alterações fisiológicas e/ou mutilações que poderão advir do tratamento.
O tratamento cirúrgico do câncer pode ser aplicado com finalidade curativa ou paliativa. O tratamento cirúrgico é considerado curativo quando indicado nos casos iniciais da maioria dos tumores sólidos. É um tratamento radical, que compreende a remoção do tumor primário com margem de segurança e, se indicada, a retirada dos linfonodos das cadeias de drenagem linfática do órgão-sede do tumor primário.
A margem de segurança, na cirurgia oncológica, varia de acordo com a localização e o tipo histológico do tumor. Ao contrário do tumor benigno, cuja margem de segurança é o seu limite macroscópico, o câncer, pelo seu caráter de invasão microscópica, exige uma cirurgia mais ampla.
Nos últimos anos o melhor entendimento dos mecanismos de desenvolvimento e progressão dos tumores e a eficácia cada vez maior dos tratamentos cirúrgicos combinados com radioterapia e quimioterapia têm proporcionado resultados cada vez mais efetivos, avaliados através das taxas de sobrevida e controle de doença. Além de objetivar a cura, a cirurgia oncológica é uma especialidade voltada também para o ganho de qualidade de vida.
A despeito de toda evolução das outras terapias, a cirurgia realizada dentro de princípios técnicos guiados pelo conhecimento da história natural dos tumores continua sendo a principal arma de combate ao câncer.
Os conceitos modernos do tratamento cirúrgico oncológico incorporaram os recentes avanços no conhecimento das vias de disseminação dos tumores, no sentido de permitir a realização de operações mais conservadoras, com melhores resultados estéticos e funcionais, sem prejuízo das taxas de cura, o que proporcionou considerável impacto na qualidade de vida.
Nos dias atuais, cerca de 90% dos pacientes com câncer requerem cirurgia em algum momento da evolução da doença. Nesse sentido, o cirurgião oncologista pode participar do manejo do doente com câncer em diferentes momentos, todos eles de grande importância para a aquisição do sucesso esperado objetivando cura com qualidade de vida.
Também é função do cirurgião oncologista reconhecer a necessidade de participação de profissionais de outras especialidades para melhor assistir ao doente, tendo se tornado relativamente comum a interação entre equipes em algumas áreas da cirurgia oncológica. Dessa forma, a Cirurgia Oncológica moderna têm por objetivo oferecer ao paciente a chance de cura ou a melhor expectativa de sobrevida agregada a melhor qualidade de vida.
Fonte: www.inca.gov.br